quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A presa do nada

(à minha mãe)

Desde sempre,
Minha alma pesa,
Pois, desde sempre,
É preenchida por
Um vazio real, um vazio presente,
Um vazio que é dor e saudade
Do que não vivi.
Desde sempre,
Minha alma está cheia
De um vazio que fala,
Que canta, que sorri, que chora.
Um vazio que tento tocar
E minhas mãos o transpassam.
Desde sempre, minha alma
Recolhe infindas lágrimas,
Na vã tentativa de preencher o vazio.
Sempre a espera de algo.
Debruçada a gritar diante de um poço seco,
À espera de um eco que não vem.
É vazio oco.
Vazio de ausência.
É a presença de uma ausência vazia.
A ausência do que poderia ter sido,
Como a boneca que não chega no Natal.
O vazio nostálgico sem lembranças.
O vazio do recorte no retrato.
O vazio da despedida.
Minha alma segue cheia
De vazio feito de nada. Vazio que pesa.
Mais real que a própria realidade.
Simplesmente vazio.
Indefinível. Insubstituível.
Ainda que minha alma viva,
O que nela viverá é o vazio.
Sempre o vazio
Do que não foi e era pra ter sido.
Vazio que enche a alma,
E esvazia a coragem
De ocupar o vazio
Desta alma vazia.
Como pode um vazio
Ocupar tanto espaço,
Sem que se possa tocá-lo?

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