segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O Homem é o único animal que...

São cinco os nossos sentidos físicos: visão, audição, tato, olfato e paladar. Eles dão ao Homem a percepção do mundo em que vive. Mas como obter a percepção de nós mesmos? Como saber quem é esse “ser” que vê, que ouve, que toca, que cheira e que prova o mundo exterior? Todos os nossos órgãos dos sentidos, olhos, ouvidos, pele, nariz e boca, estão, na verdade, de costas para nós. Mas existe um outro mecanismo, para dar ao Homem, a percepção de si, a autoconsciência. Mas, me parece, que o Homem busca sempre se afastar da percepção de si mesmo. Podemos reparar isso, quando fazemos afirmações do tipo “o Homem é o único animal que...” - como esperássemos nos comportar da mesma forma que os demais animais, nos mais diversos aspectos ( ...que toma leite depois de adulto, ...que se acasala, sem ser para procriação...). O Homem não pode se comparar com os demais animais, simplesmente, porque “o Homem é o único animal que...” - pensa! E, se pensa, pode adquirir consciência de si, e, consequentemente, ser livre, e escolher não ser catalogado como membro do mundo animal irracional.
Escolha! Eis a manifestação mais precisa da liberdade! Estamos, a todo o momento, fazendo escolhas, e estas, por mais variadas que sejam, acabam por se resumirem numa simples oposição: por nós X contra nós. Se não soubermos quem somos nós (autoconsciência), não poderemos fazer escolhas. E, sem escolhas, sem liberdade.
“Escolher” assusta. O Homem, diante de uma escolha, se torna vulnerável. O processo de escolha em que vivemos nos faz passar, a todo o momento, pela angústia do desconhecimento do porvir. Isto faz com que o Homem, amedrontado, fuja dessa liberdade real. É aí que entra a anti-liberdade, a padronização, a fábrica de ídolos que salva o Homem dessa imensa angústia decorrente das escolhas, que são a expressão da liberdade. Com isso, o Homem foge de si mesmo, se substitui por ídolos, e abre mão de “ser”, entrando em intenso processo de despersonalização e perda de identidade.
A autoconsciência permite, ao indivíduo, a capacidade de elaborar as angústias decorrentes das escolhas, levando a uma liberdade saudável, que, logicamente, não se traduz em fazer o que é proibido, fazer tudo o que quer, ou não fazer o que deve, mas, sim, buscar a justa adequação entre esses três aspectos. Tudo se agrava, à medida que o sujeito se vê controlado por inibições, repressões, ou condicionamentos da infância, que, mesmo esquecidos, ainda o impulsionam inconscientemente, impelindo-o, sem que ele possa controlar. Em vista disso, a pessoa torna-se também enfraquecida e manipulável.
Temos, em muitos autores, ideias como estas aqui descritas, que, parece, se completam, se acrescentam, se enriquecem. Se formos procurar, encontraremos, talvez centenas, milhares de outros tantos artigos, crônicas, novelas, poemas, livros, filmes, peças, ensaios, conversas, onde as mesmas impressões são deixadas, as mesmas preocupações são demonstradas, os mesmos sonhos são embalados. Então, por que a humanidade ainda não se apercebeu disso tudo, e não conseguiu equacionar esse conflito?
Seria por que... “o Homem é o único animal que...” é masoquista???

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