“Eu, no tempo, sou como um cego que caminha de braços
abertos, num espaço desconhecido, tateando o ar, em busca de algo
que o oriente, para que possa continuar a caminhada. Eu caminho no
tempo, com minha mente espalhada, tateando as lembranças, em busca
de algo que me oriente, para que eu possa continuar a viver.”
"Como o tempo deforma o que é matéria! Quando a
gente vê um amigo de infância, a gente não reconhece... Se
fôssemos cegos, a gente reconheceria."
“Olha, todo dia, todo instante, tem um peso imenso
sobre mim, pois vivo numa atitude recursiva de me entender sempre um
pouco mais, de entender que sempre mais não me entendo. Cada vez
mais, me dedico a esse passatempo desolador, mas ao mesmo tempo tão
necessário a mim. E, por viver cada segundo sempre me observando de
fora, acabo por nunca ser uma só, mas sim, várias. Porque, a cada
dia, descubro que mudei sempre, mais ainda, que já não penso como
ontem. Então, digo pra mim mesma: 'Sou a antítese de mim mesma'.
Muitas vezes, a EU de hoje discorda e argumenta com a EU de ontem,
que não tem chance de responder, pois já perdeu a vez de falar.
Então, a EU de amanhã tenta fazer jus e chegar a uma ponderação,
e só faz piorar, pois, fechando a dualidade dialética, constrói
base pra EU de depois de amanhã discordar novamente. Sou
extremamente dialética, portanto, não sou nada. Apenas estarei...
ou, melhor, estou... quer dizer, estava...”
“O tempo parece um trovão: quando a gente escuta o
grito, ele já foi. Só com uma diferença: quanto mais distante,
mais alto ele grita.”
“Cada momento crítico desperta no ser humano, uma
demanda diferente sobre o tempo - paralisar, retornar, acelerar, e
retardar. Segurar alguém, durante uma queda, demanda necessidade de
parar o tempo. Correr para impedir um atropelamento Em outras
situações, o sujeito sente vontade, não de puxar o tempo pela
capa, mas de pisá-la, de modo a imobilizar o tempo.”
"Não se iluda, meu caro: Não é você quem passa
pelo tempo; é o tempo que passa por você, e não volta."
"Acabei de descobrir que o tempo compra todos os
meus rascunhos, antes que eu passe a limpo. A minha memória me trai,
por que vende tudo para o tempo."