quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O dia que a geladeira chegou

Você não acredita em Papai Noel? Pois, saiba, ele existe, ou, melhor, eles existem, em sua cidade mesmo. São centenas deles, com os mais variados trajes. Seus trenós, de tamanhos também variados, são caminhões, que, em suas carrocerias, levam todo tipo de presente: sofás, geladeiras, computadores, bicicletas, camas, armários, tapetes, fogões, banheiras, lava-roupas, secadoras, portas, janelas, televisores. São casas completas, que todos esperam chegar, sempre com a corrosiva ansiedade de uma criança, em véspera de Natal.
Quem nunca, olhando pela janela, ou atendendo o interfone, ou até mesmo do portão, gritou, mesmo que para si mesmo, o sonoro e familiar 'chegou'? Experimentando tremor, suores e palpitações da criança diante do presente. A família, se houver, como soldados enfileirados, sem saber o que fazer com as mãos, aguarda ansiosa a chegada do seu Papai Noel.
É um ritual. Acontece sempre da mesma forma: Ele traz a nota, confirma o destinatário, mesmo sabendo, pelo sinal afirmativo das cabecinhas que o olham, que, com certeza, é ali o local da entrega. Neste momento, ele é atingido pelos mais variados olhares de ansiedade e expectativas, e bocas tentando conter o sorriso, e braços e pernas fingindo naturalidade, quando, na verdade, queriam gritar, pular e abraçar, de tanta felicidade. Feito isso, o Papai Noel volta ao caminhão, para pegar o presente, que, às vezes, é muito grande, e exige ajudante para transportá-lo. E chega o grande momento, quando é feita a tradicional pergunta:
- Onde é para colocar?
Na maioria das vezes, quase como um ritual, o 'altar' já está devidamente limpo e preparado.
Stop. Congele a imagem. Agora, uma panorâmica. Papai Noel, observe o olhar daqueles que, por dias, esperaram, ansiaram por sua chegada. Não é mais possível esconder o brilho do olhar, conter o sorriso que se escancara nos lábios, nem manter parados pernas e braços que conduzem o corpo numa estranha valsa em torno do presente e seus carregadores. Esse é o momento singular, onde pairam no ar, felicidade e alívio. Os entregadores largam ali a mercadoria pesada que vinham trazendo, com o certo sentimento de missão cumprida. Enquanto os espectadores experimentam um privativo Natal, com direito a Ano Novo. Pois, naquele momento, ocorrem mil e uma promessas e juras, expectativas de uma vida nova, a partir dali.
Com certeza, se os entregadores, quando saíssem, ficassem atrás da porta, poderiam ouvir os pulos e gritos infantis daquelas mesmas pessoas que, ao recebê-los ainda com a nota, tentavam se manter sérias. Fico imaginando o quando deve ser divertido e gratificante ser Papai Noel o ano todo, e, principalmente, poder estar, cara a cara, com os que recebem seus presentes. Não há sinos tocando, mas, se eles tentarem, poderão ouvir corações entoando hinos de alegria. É esse o Natal de todo dia, onde tantos 'Papais Noéis' deixam, nas casas de outras tantas pessoas, presentes, que, muitas vezes, não terão em suas próprias casas. Mas, talvez, se olharem fundo nos olhos daqueles que os recebem, levarão consigo um presente, e mais outro, e mais outro, e mais outro, e mais outro... até que o caminhão esteja vazio, para que receba nova carga, pra mais um dia de Natal.
Sim, 'Papais Noéis' existem. E pronto!