domingo, 24 de maio de 2015

O baile da vida

Você alguma vez viu como é um baile de carnaval de adolescente? Ou de criança? Ficam alguns sentados às mesas e uma grande roda de gente dançando no salão, e dando voltas. Certo? Quem não quer dar voltas, fica no centro da roda dançando. Eu acho que a vida é isso. E existem algumas atitudes que se pode tomar em relação à ela:
Você fica na cadeira o tempo todo, durante o baile, dizendo como cada um deveria dançar.
Você fica na cadeira, durante o baile, tentando criar coragem para entrar na pista, com medo de não conseguir. Quando entra, já é tarde, pois o baile está quase acabando, e você não consegue se ambientar. Você se sente inadequado. Sente-se o tempo todo deslocado, e, assim como os que estão na mesa, você passa a assistir o baile de dentro do baile - um espectador inserido no ambiente, mas sem influenciá-lo em absolutamente nada.
Você entra, mas a roda te arrasta. Você não consegue retomar o prumo. Se deixa levar. Vai até o final do baile tentando firmar o passo, se endireitar. Sempre que a orquestra muda para uma marcha-rancho mais tranquila, você acredita que vai se aprumar; mas não dá tempo. Antes que você consiga, vem de novo o sambão, e todos começam a pular e dançar, e você se desorienta novamente. E assim você vai, até o final do baile, sempre esperando a valsa de que precisa para fazer a sua dança.
Você vai, do início ao final do baile, girando na roda, sempre pelos mesmos lugares, sempre vendo as mesmas coisas, e criticando aqueles das mesas que não entraram na pista, dizendo que eles têm medo de entrar, que eles estão perdendo. Mas você não sabe exatamente o que eles estão perdendo. Por que a única coisa que você sabe é girar, girar, e repetir tudo sempre igual, até que o baile termine.
Você não fica na roda. Se mete no burburinho, no centro da roda, e fica ali, pulando, dançando, fazendo tudo quanto é loucura. Mas, quando menos espera, o baile acabou, e você não viu o pessoal das mesas, nem o garçom, nem bebeu, nem comeu, e não lembrou nem de fazer xixi. Aí, corre à fila do banheiro para ver se dá tempo, mas é tarde demais... tenta comer ou beber algo, não dá mais tempo. Dançou pra caramba, mas não viu nada do baile. Senta e fica olhando as pessoas irem embora e o baile acabar, com aquela sensação de perda de algo que você não sabe bem o quê,  pois perdeu antes de ganhar.
A orquestra? A orquestra seria aquela que dita as regras da dança: o Zeitgeist, a mídia, o padrão da época, o que está valendo, o que está em voga, os valores...